sábado, 24 de maio de 2008

A aparência, por Nietzsche

À DISTÂNCIA

Essa montanha faz todo o encanto e todo o interesse da região que domina: depois de ter-nos dito isso pela centésima vez, nos achamos, a seu respeito, num estado de espírito tão sobressaltado e tão cheio de reconhecimento que imaginamos que aquela que possui todos esses encantos deve ser ela própria o que há de mais encantador na região - é por isso que subimos até o topo e ficamos desiludidos!
De repente o encanto desaparece na própria montanha e em toda a paisagem que a cerca; havíamos esquecido que há certas grandezas, precisamente como certas bondades, que só querem ser vistas de longe, e sobretudo de baixo, sob hipótese alguma, do alto - é somente assim que fazem efeito.
Talvez conheças homens de teu meio que só podem olhar-se a si próprios a certa distância para se julgarem suportáveis, sedutores e vivificantes; deve-se desaconselhar a eles o conhecimento de si.


Friedrich Nietzsche - trecho de A Gaia Ciência - uma obra de reflexão do filósofo sobre a história do saber, a busca do conhecimento. Crítica aos caminhos e descaminhos trilhados pelo indivíduo no decurso dos séculos, por teorias e correntes, influenciadas geralmente por superstições, preconceitos, religiões, etc...
Nesta obra, Nietzsche tenta explicar as verdadeiras raízes do conhecimento humano, e, sem muitos rodeios, da dificuldade e incapacidade do ser humano em aprofundar-se no conhecimento essencial para a própria liberdade: o conhecimento de si mesmo.

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