quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Auto-ajuda a quem?

Nós, estudantes da área de humanas, ao procurarmos temas sobre psicologia, principalmente nas livrarias, nos deparamos com auto-ajuda. Pois é, o mercado foi invadido de tal forma que poucos conseguem fazer a DISTINÇÃO entre os mesmos.
Faremos aqui:
Livros de auto-ajuda geralmente não tem base teórica ou técnica, são experiências de algumas pessoas,as quais dizem que precisamos sorrir pra tudo o tempo todo, que se sabe lá o porque mas acham que as coisas funcionam ao fazerem isso ou seguirem os ensinamentos do livro.
Geralmente são temas parecidos, como ter sucesso, como cultivar uma relação, como se dar bem com seus pais, como enriquecer em pouco tempo (os autores desse livros sabem muito bem desta parte) e assim por diante.
O que mais me chama atenção é que: o individuo pode tudo, e para isso, basta ter otimismo e acreditar. Mas, acreditar em que?
Ora, nos colocam que o ser humano se auto-determina, auto-desenvolve, auto-realiza... sozinho. Eis o primeiro equívoco: ninguém faz nada, absolutamente nada sozinho. O homem, ao se apropriar da cultura existente há séculos, criada pelo próprio homem, passou a viver sob o comando de algumas regras, tradições, costumes, se relacionando com o mundo, obviamente, se relacionando com o outro, isto é fato, desde o biológico.
O fator interdependência é visível, menos é claro, para os autores desses fabulosos livros.
Segunda aberração: muitos livros de auto-ajuda focam na realização do indivíduo, como profissional, sua vida na sociedade, como alcançar o sucesso, como ganhar mais dinheiro, coisa e tal, como se tudo fosse mecanicamente programado, detonam o essencial: a individualidade. As pessoas não possuem os mesmos objetivos, o que eu quero pra mim com certeza não é o mesmo que você, muitos tem oportunidades, muitos não. Quem tem consciência disso, não tem a necessidade de caminhar em bandos, juntos, em círculos, sem chegar a lugar algum, pois é aí que está a armadilha, como e quando essas pessoas se realizarão, se o modelo do "homem realizado e idealizado" é sempre reconstruído?

O que esses livros nos passam é nada mais que um modelo PADRÃO de indivíduo, o indivíduo que trabalha muito e sempre quer mais, o indivíduo que consome pra se sentir melhor, o indivíduo que se insere no mundo ditado por regras e capitalismo, o indivíduo que finge que esta tudo bem quando o mundo desmorona a sua volta, o indivíduo que não tem o direito de ficar triste, enfim, o indivíduo que de alguma forma possa ser alienado, manipulado, colaborar ou dar lucro.
Acorde e diga: eu sou feliz, eu posso: como se fosse fácil não? Como ser feliz sem emprego? Ou na fila de um pronto socorro em greve? Bem, eles poderiam responder que isso nunca seria um obstáculo, mas sim uma fase pra novas descobertas, pra refletir. Nesses livros podemos encontrar dicas e respostas das mais variadas possíveis, com muito otimismo, para problemas pessoais, para toda e qualquer dificuldade. Sabem tanto a respeito do ser humano que engolem mais um fator importantíssimo: o contexto social que o individuo nasce e vive, que muitas vezes pode não ser favorável para os seus projetos e idealizações, ou ainda mais grave, pode não ser favorável pra sua sobrevivência.
Quem não se encaixa no modelo padrão da sociedade não é alienado, alienados são todos esses que andam em círculos, lembram?Que precisam de uma referência, de um modelo, ou de alguma instituição que lhes digam o que é certo ou errado.Que fazem tudo igual, que não tem capacidade de caminhar com as próprias pernas, buscar a criatividade e dar o grito da independência, e o que esses livros vendem é exatamente isso, modelos de indivíduos, não ajuda.
Para ajudar uma pessoa é necessário que se conheça as bases de sua formação, seu desenvolvimento, seu contexto histórico social, suas experiências de vida, até onde vão seus limites, a cultura que acumulou, a maneira que se apropriou, enfim, não é trabalho pra picaretas. Ao olharmos para uma pessoa é pretensioso demais dizer faça isso ou aquilo e seja feliz, pretensioso e impossível, o ser humano não é um bonequinho o qual basta ligar a pilha ou dar algumas rodadas de corda pra que funcione, dê piruetas ou rebole.
O ser humano é composto por uma subjetividade gigante, e a beleza dessa vida consiste nisso, na luta para tornar real nossas descobertas, aquilo que sentimos, que buscamos.Quanto mais nos conhecermos, maior a possibilidade de entendimento e equilíbrio entre nossas angústias e alegrias. E, ao contrário do que dizem, a angústia não é algo negativo, pelo contrário, é através dela que tomamos decisões, que optamos por algo, ela é parte do nosso crescimento.Portanto, temos sim o direito de ficarmos tristes, angústiados, melancólicos sem nos culparmos por isso, pois ninguém tem a obrigação de estar cem por cento o tempo inteiro.
Particularmente, deixo aqui toda minha admiração e respeito por essas pessoas que constroem suas vidas e buscam soluções com base na própria essência, no coração, na simplicidade, na própria verdade, sem atropelar ninguém pelo caminho, aquelas que não precisam de holofotes ou fogos de artifícios para demonstrar suas conquistas ou sua suposta felicidade. E, para amenizar sofrimentos não acredito na imobilidade da fé otimista, acredito mesmo é na ação, na promoção do desenvolvimento, seria como substituir OTIMISMO por OPORTUNIDADE.


Jane Estela Chaves

4 comentários:

rafa disse...

Olá Jane
Impressionante a facilidade que voce possui para desenvolver algum assunto. Sou leitor de criticas desse estilo, sempre com o intuito de alguma providencia que possa interferir no problema. Estou enviando meu msn por email gostaria de falar mais sobre a febre da auto-ajuda no Brasil, pretendo escrever uma materia sobre o tema em breve. Parabens pelos artigos.
Rafael Júnior SP

fer disse...

Visito seu blog constantemente, e este artigo pra mim é um dos melhores. fiz um trabalho sobre o livro: Casais inteligentes enriquecem juntos, no sub, Casais por conveniência empobrecem juntos (falando da farsa de uniões que se transformam num verdadeiro tormento, sem nenhuma válvula de escape p o crescimento emocional).
Gostaria de saber se tem mais material a respeito desses fabulosos livros rsss
beijos
Fernanda

Jane Estela disse...

Oi Fernanda, me envie um email com um endereço p que eu lhe mande materiais sobre o tema,
bjão

Anna Lima disse...

bjo